sexta-feira, 25 de abril de 2008

Minhas Crôncas do Portal Gramame.com

05-04-08 às 09:04h
Toda nudez será bem vestida

Dizem que as mulheres se vestem ou se enfeitam para outras mulheres. Mas ao contrário de Nelson Rodrigues há de se considerar que “ toda nudez será bem vestida”, se levarmos em conta que os homens de nossa sociedade não prestam muita atenção em detalhes femininos exceto as saliências glúteas e os úberes férteis e rijos. Com tanta sensibilidade assim, não era de se esperar que as mulheres trocassem as vestimentas ou se arrumassem para as outras mulheres, pois que, esperavam elas que os homens observassem as diferenças pelos tipos de tecidos, calçados, adereços, cores de esmaltes, penteados ou alisamentos, pinturas de cabelos, maquiagem, alongamentos das saias ou ainda as cores da moda. Essas frivolidades que passam despercebidas muitas vezes pelo pragmatismo dos homens.

Mas o bom gosto, só a quem pertence. Além do mais, como acreditar que com tamanha falta de atenção, aos pormenores femininos, os homens fossem dar conta de que as mulheres estariam de vestido novo ou usado, com cores de tal ou qual tonalidade, até porque dizem também que os homens são meio atrapalhados com as cores, quando não são daltônicos por natureza. Então? Esperar mais não seria possível, porque visivelmente as mulheres se enfeitam para outras, acredito que são o termômetro da beleza presencial, elas medem o grau do encanto de cada uma delas, verificam as deformidades, desaprovam os exageros, contrariam os abusos e enxovalham com a outra, mesmo a outra estando exuberante, as fêmeas avaliam subjetivamente e sempre encontram defeitos nas mais completas e indefectíveis sex-appeal.

A inveja, um dos sete pecados capitais, mora na casa da cobiça. “As mulheres bonitas anseiam a sorte das feias.” Estas que no mais das vezes conseguem conquistar machos lindos, viris e elegantes, não por sorte... Para as bonitas os machos, insensíveis, aos seus olhos, não as trocam pelas feias, mas não apresentam bom gosto, para escolha. Quando a mulher feia namora um homem bonito é sorte dela; Se uma mulher bonita namora um homem bonito é bom gosto; Se um homem feio namora uma mulher bonita, é sorte dele, mas se ambos são feios ainda é mau gosto dele. Que discrepância! Não sejamos hipócritas!

Na verdade essa inveja é uma herança cultural. As estórias infantis contam e, de certa forma, induzem nossas crianças ao preconceito, quando transformam o feio em belo para poder ser apreciado. Todas as Fionas de nossas história, foram mal conduzidas no processo seletivo, e por serem consideradas feias, eram condenadas a viver sós o resto de suas vidas. Na realidade, tidas com bruxas, foram condenadas ao fogo e submetidas as mais perversas truculências, como se feiúra fosse um atributo conseguido pelo seu mau desempenho social. Se fôssemos seguir os axiomas que derrubam as mulheres iríamos construir uma sociedade só de gente aparentemente bonita, sem nos importar com outras qualidades, as que não vêem num pacote endógeno, mas que são frequentemente conquistadas e apreendidas nas interações.

_ Se todas são belas ficarei com qual delas?

_ Em que consiste a diferença? Seria muito chato se fôssemos iguais na beleza.

Mas a tônica aqui em discussão é: Por que será que as mulheres se enfeitam ou se vestem para outras?!

Se no caminho de uma avaliação transcorri para outros campos é porque há holisticidade nesse conhecimento, entretanto iremos buscar a profundidade desse fato nos tempos áureos de nossa civilização. A Grécia, por exemplo, tem um manancial relacionado a mulheres que desafiaram os homens, essa fonte porém nunca secará, pois culturalmente está sendo perpassada para as outras civilizações cujos paradigmas de beleza são outros. É por isso que hoje em dia elas continuam provocantes...

“ As mulheres se vestem para as outras”... Essa pretensão não pode ser considerada um adágio mal elaborado, não é um feito repelido pelos machos, nem uma panacéia sem qualquer valoração, há um sentido cultural, implexo para que toda essa exogenia seja concebida pelos homens sem qualquer analogia com o real.

Enquanto houver mulheres, independentemente dos predicados por elas auferidos, as querelas existirão. Aprendi que crescemos com os conflitos, e depois de resolvê-los, aprendemos a perder, a ganhar, a nos solidarizar, a combater o bom combate e ai, desenvolvemos nossa capacidade de perceber o outro ou a outra, sem que nos cobrem, com aforismos baratos e posições modelares e dogmáticas, que nos fazem esquecer que somos pessoas moldáveis, multáveis, e não dependemos de outras de nós para avaliar nossa capacidade de nos apurar o gosto.

As mulheres no geral sabem que acima de uma trivial avaliação, estão conscientes dos tipos de homens que não querem, muito embora se acerquem de dúvidas, quantos aos tipos que desejam.

As verdadeiras mulheres não precisam de apanágios supérfluos para fisgar os homens de suas vidas. Basta ser original, pois sem apologismos, me convenci de que

“a originalidade não se desoriginaliza, como diz a sabedoria popular. ”

Com esse arremate a mulher não só se vestirá, como terá motivos plausíveis para se despir e ai valerá o adágio rodrigueano: Toda nudez será castigada.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Ressignificando a infância hoje

Mais respeito com os poetas!


Até hoje espero receber aquele livro de Mario de Sá Carneiro, cujo título não vem ao caso, mas a veracidade do que nele está escrito. Poderiam ser cartas, poemas, versos, músicas, crônicas, resenhas... Pouco importa, na realidade o conteúdo supera a forma. Mas quando nos habituamos a ler sem o mínimo de seletividade corremos o risco de nos corromper com idéias sem objetividade, sem critério e de absorvermos conhecimentos voltados para o senso comum. Às vezes ou quase sempre, precisamos desconstruir axiomas do tipo: “poesia é coisa de mulher” para “poesia é coisa de gente”. Os homens e as mulheres da sociedade machista incutiram em nossas mentes convencionalismos que perduram até hoje, mas a nova ordem social pautada na teoria do conhecimento complexo ou pertinente, faz–nos crer que tudo é válido se não nos leva a crenças incondicionais em dogmas, tabus, preconceitos e discriminações.
A sociedade da inclusão rechaça toda dicotomia que separa o conhecimento e as realidades. Portanto uma boneca ou um carrinho são brinquedos infantis. As preferências criadas em torno deles são folclores, que provocam o afastamento dos seres humanos pelas precedências e pelos gêneros.
A sensibilidade é um sentimento que ficou adormecido no homem por civilizações inteiras e a tentativa de amainar a dureza do macho tem tido resistências profundas e justificadas nas influência da teoria evolucionista, em que vence aquele que mais se adapta as mudanças; a lei do mais forte, na qual a esperteza vence o poder e a inteligência; o apadrinhamento vence as normas e as leis. E a lei do toma-lá-dá-cá é tônica incorrigível em meio político.
Assim, enquanto houver o “macho-branco e rico sempre no comando” fica difícil derrubar determinados classísmos.
Da maneira como denuncia, Caetano Veloso anuncia uma mudança e, brincando com as palavras, o compositor canta a destradicionalização implícita na poesia de outro português: “Gosto de roçar a língua na língua de Luis de Camões, gosto de ser e de estar... e quem há de negar que esta lhe é superior...”
“Mudam-se os tempos,mudam-se as vontades;Muda-se o Ser, muda-se a confiança;Todo mundo é composto de mudança,tomando sempre novas qualidades."
A poesia é elemento que transcende fronteiras em busca do belo, do bom e do grande. É fato que burguesia não rima com poesia, e nisso o poeta Cazuza estava certo. Ele só esqueceu de dizer que o ser humano antecede a burguesia e que poetas não precisam pertencer a categorias, pois todos os que são sensíveis exalam beleza, sem castas, sem divisão. A sensibilidade existe em todos e, em algumas pessoas, num lugar remotamente encoberto com folhas raízes e águas. Mas que um dia aflora.
Entendendo assim, talvez você não me diga que poesia é negócio de gay...
E foi através de uma cantora gaúcha que tive o conhecimento da existência de Sá-Carneiro, o poeta suicida filho de burguês e amigo de Fernando Pessoa.
E, não demorou muito para que Adriana Calcanhoto, ainda que lho desse a alcunha de bichinha em seu show, provocando gargalhadas mordazes em todos ali presentes, reconhecesse a musicalidade na poesia de Sá-Carneiro:
“Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.”
A vida é um poema, mais respeito com os poetas!


crônicas do portal Gramame



Quando eu era criança, brincava muito na calçada da Igreja Nossa Senhora do Desterro, mal parava em casa. Ao chegar da escola jogava a bolsa na cama retirava a farda, fatiava um pedaço de pão passava manteiga com um pouco de açúcar e saia correndo, ainda degustando, para me encontrar com os amigos da calçada da Igreja. Era lá onde tudo acontecia; amarelinha, garrafão, barra-bandeira, brincadeiras de roda, senhora dona Cândida, seu rei mandou dizer, circo, imitávamos programas da TV...Meninos e meninas numa grande harmonia sem preconceitos, sem rótulos, sem modelos, sem modas, sem vícios, o único ser que nos apavorava era um senhor apelidado por Bigode de sopa, porém nos amedrontava o seu porte, talvez ele nem fosse tão enorme assim, nós é que éramos pequeninos demais.
A noite íamos dormir muito cedo, nó máximo as vinte e uma horas, mas ainda dava tempo de irmos saltitar na praça Monsenhor Julio Maria, ficávamos a rodopiar pelos canteiros, esperando as vezes que caísse um coração de negro (castanhola) e nem era preciso lavar para saboreá-lo, as ruas não eram sujas, não havia esse amontoado de lixo de hoje em dia.
Acordávamos cedo para irmos a escola estudar. Hoje em dia muitos garotos faltam aulas para trabalhar ou serem explorados, carregando feiras em pesados carros de mão, comprometendo sua estrutura óssea.
O período da menarca em nós garotas, não era motivo para amadurecermos, continuávamos brincando de bonecas; não havia essa ausência de infância que há hoje em dia, onde aos nove anos as meninas já engravidam.
As meninas não usávamos batom nem qualquer outra maquilagem e nossas roupas eram confeccionadas pelas costureiras, com tecido de puro algodão e não com derivados de petróleo como é hoje em dia.
As famílias colocavam suas cadeiras nas calçadas para conversar sem temor, e sem o cuidado de serrem roubadas.
Hoje em dia a sociedade é outra, temos medo dos nossos semelhantes, não dormimos mais de janelas abertas, nem andamos sossegados pela madrugada, hoje em dia somos gradeados enquanto vivem libertos os que nos ofendem. Não temos mais segurança, pois muitos daqueles que deveriam nos proteger, abrigam o mais das vezes os que nos molestam.
Hoje em dia é muito diferente. A algumas décadas passadas, não havia o homem gabiru atrofiado pela inanição, não haviam urubus com fome, nem os lixões da vida, muito menos crianças recém-nascidas abandonadas em sacos de lixo, numa demonstração da banalização do ser e da pouca expressão da vida. A sociedade mudou, para pior, o avanço da tecnologia de ponta não deu espaço para a humanização do seres. E seu processo avassalador leva-nos a cada dia para mais longe de nós mesmos. Transformamos-nos em caricaturas de modelos pós-representados, em clichês de marca menor, estereótipos da mercadologia internacional, ranços da globalização, da vulgarização da existência e da morte.
Hoje em dia mata-se por brincadeira. As pessoas estão desaprendendo a viver. A depressão, o mal do século, acompanhada do problema existencial chamado solidão; a ausência da filosofia, que nos ensinava a pensar, a refletir a respeitar o próximo; a busca desesperada pela conquista do não sei o que; a incansável caça ao ouro preto, o petróleo, a sociedade do espetáculo vê-se ameaçada em transformar-se num cinema vivo.
Hoje em dia a sociedade é outra. Avançamos em tudo e chegamos a culminância do grande projeto que não deu certo: a humanidade. É preciso desconstruir essa concepção e recriar um novo ser humano, arquitetado na mente das crianças enquanto tenras, pois só assim conseguiremos resgatar: o perdão, a verdade, a candura, a beleza, a bondade, a alegria, a esperança , a generosidade e o poder da imaginação desses pequeninos seres, valores que estão sendo substituídos por outros. E para elucidar o que digo,
basta citar a reportagem que ficou marcada na memória dos que assistiram, como a imagem do século XX: uma criança do sertão pernambucano cujo único brinquedo eram pedaços de ossos de animais, e sua imaginação transformava aqueles fragmentos de esqueletos em boizinhos dentro de um pequeno curral. E apesar da pobreza absoluta, ainda havia, a esperança e um sonho na mente daquela criança...
Hoje em dia felizmente, e não obstante as transformações e as degenerações sociais, as criança continuam gostando de brinquedos e das brincadeiras que fugiram do seu imaginário. Você não acredita nisso? Dê um brinquedo a uma criança, e verá.


Tributo as Mulheres


Eu pensei em falar sobre a mulher, mas não com aqueles jargões de todos os anos de comemorações; que lembram as noites marianas, com corações, orações, beijos e abraços... Acho que as mulheres merecem algo muito melhor: O reconhecimento, inclusive pelo homem, de sua luta milenar em busca do direito ao seu espaço nesse mundo que é de todos, mas que, o mais das vezes, lhe é negado. Acho que elas merecem algo mais, além de um simples cartão com os dizeres: parabéns pelo seu dia! Ou um ramalhete com um minúsculo cartão: Parabéns, mamãe, hoje é o seu dia! Num desconhecimento total da história da luta das mulheres em todos os processos de civilização. Inegavelmente, a meu ver, as mulheres dão sentido à existência. Assim, pensei fazer-lhes uma homenagem e dizer da sua luta desde que o mundo é mundo, das suas elevações e das suas quedas, do seu endeusamento e da sua degradação. Falar daquela mulher que nunca calou a voz diante as injustiças; daquela que plantou a primeira semente do perdão; da irreverente mulher que nem a Deus temeu; e promover aquela que deixou uma cidade inteira babando pelo seu amor, pela sua sensualidade.
Queria homenagear as mulheres que tiveram a coragem e desafiaram o despotismo do clero e por isso foram amarradas e queimadas em fogueiras em praças publicas, execradas pelos que, iludidos, acreditaram na verdade absoluta de que eram realmente bruxas. Queria não criticar. Porque seria imprudente condenar a Josefina, pela sua coroação, mas a ocasião lhe favoreceu um título, de Imperatriz da França, aquela coroa papal não lhe fora a melhor idéia de seu irreverente esposo, apesar de ser coroada ela foi desprezada, por não poder dar um herdeiro ao trono. Mas, eu queria lembrar ainda daquelas mulheres que foram quase esquecidas, emergentes do povo: as Marias, as Margaridas e as Rosas, na peleja contra a subordinação, contra a opressão; lembrar também a mulher negra, exemplo de luta contra a discriminação racial, nas manifestações antiapartheid; hoje é dia de relembrar a enfermeira-mor e estender os louvores às demais que arriscam suas vidas para salvar os feridos, sejam eles de guerra ou não.
E como posso esquecer das chinesas e a “rosa de Hiroshima”, as alemães e as judias assassinadas, por mero capricho de um ditador, nas câmaras de gás, e por falar em ditador quero aqui mostrar o meu protesto e somar as fileiras das mulheres da praça de Maio {mães} seqüelas de uma ditadura sem precedente em Buenos Aires. Aproveito para lembrar as mulheres das Ilhas Maldivas, livres da burca que andam com os seios desnudos desfiando o falso pudor da nossa civilização, e, falando em irreverência com é possível não lembrar da Leila Diniz e sua exuberante beleza revolucionária dentro de peças minúsculas que cobriam pequenas partes do seu corpo. E por falar em corpo, lembrei que o fóssil mais completo da espécie Australopithecus consiste em uma mulher, cujo nome é Lucy “Lucy in the Sky with Diamonds” que resistiu milhões de anos na Etiópia. Mas hoje é dia de lembrarmos das extraordinárias mulheres russas que nos traz à memória outras Rosas, a de Luxemburgo, por exemplo, assassinada e jogada ao rio, mas lutando pelo direito de propalar suas idéias contra o capitalismo; e por fim, não poderia deixar de lembrar Simone de Beauvoir, escritora astuciosa, que revela o segundo sexo ao mundo e revoluciona a literatura francesa; existencialista, mas oprimida pela sua inteligência, deixou sua grande contribuição para a emancipação da mulher na sociedade contemporânea.
Diante do exposto, posso até dizer que: Por trás de cada mulher em luta, há sempre uma mão de ferro.
Mas as mulheres nunca devem se deixar vencer pela vontade tirânica.

transdisciplinaridade

transdisciplinaridade
imagem TransD

imagem TransD