Do
Humanismo Renascentista do século XVI e do Iluminismo do século XVIII, herdamos
esse mundo: dividido, matematizado com identidades unificadas, coerentes
providas de uma essência inata, imutáveis; supostamente eternas e socialmente
estáveis.
Em
seu artigo: “ Cultura Popular”, John Fiske nos revela que “a ideia de que o
povo não tinha cultura, vai orientar a ciência da antropologia no século XIX”, e
que na busca de justificativas para essa afirmação, os analistas sociais vão encontrar explicações
nas sociedades “primitivas”, onde a mitologia fazia parte da cultura erudita.
Esses analistas perceberam a força impulsionadora das classes populares e
reconheceram a influência que essa classe poderia exercer sobre a cultura como
um todo. Porém, o importante é que a antropologia abre espaço para o estudo da
cultura popular.
A
tradição inglesa, no século XX, não acreditava que a classe trabalhadora
tivesse habilidade para produzir sua própria cultura, nem para dar a sua
contribuição a uma sociedade complexa e
industrializada que emergia no cenário europeu.
Ao
longo do século XX vai haver uma rearrumação nas relações culturais na
Inglaterra: com o surgimento das mídias, como novas culturas, a influencia do
capitalismo sobre o mercado midiático, provocam a dissolução do campo de forças
do poder cultural das elites; o colapso do Império britânico, após a guerra
contra o Egito em 1956; a diáspora dos colonos, em busca da “sonhada casa”, a
Inglaterra, e o surgimento de uma nova geração de teóricos formada na tradição
inglesa e fora dela. Todos esses elementos contribuíram para a construção de um
novo olhar sobre a teoria cultural.
Em
1960 esses teóricos criaram o Centro de Estudos Culturais Contemporâneos em
Birmingham, na Inglaterra, liderado por Stuart Hall, Williams, Tompson e
Hogard, os quais deram inicio a uma sucessão de debates críticos, na ordem das
classes trabalhadora e das minorias oprimidas, construindo assim uma nova
narrativa vinda das classes populares.
Em
1980, o movimento de expansão dos
Estudos Culturais, para fora da Grã-Bretanha gerou problemas, para os teóricos
com, a perda do rigor, da fecundidade e da identidade, iniciando uma crise, por
eles denominada de “efeito Babel”.
Heloisa
Buarque (in Costa 2003) nos relata algumas características do porquê serem Estudos Culturais: “Por serem um conjunto de
abordagens, de problematizações e reflexões situadas na confluência de vários campos; Por buscarem inspirações em
teorias diferentes; Por quebrarem certas lógicas cristalizadas; E por
hibridizarem concepções consagradas.”
Os
Estudos Culturais não nascem sozinhos, eles “emergem num panorama mais amplo de
transformações no mundo contemporâneo, no qual se inscrevem nas mudanças
radicais, no que diz respeito a teoria cultural (...) Aquele conceito de
cultura elitista, segregacionista, hierárquica, transmuta-se para outro eixo de
significação,numa ampla abertura de sentidos versáteis.” (Costa, 2004;Silveira,
2005)
Na
educação os Estudos Culturais constituem uma ressignificação e /ou uma forma de
abordagem no campo pedagógico em que as questões sobre cultura, identidade,
discurso e política de representação passam, de forma articulada, ao primeiro
plano da cena pedagógica. (Moreira, 2004; Costa, 2003).
Os
muros caíram e as fronteiras foram dissolvidas; as continuidades rompidas; as
velhas certezas hierárquicas foram questionadas. Migrações e diversidades
culturais quebram a estabilidade da identidade do sujeito moderno. Lac lau
1990; Hall, 2006, argumentam que “o
deslocamento têm características positivas. Ele desarticula as identidades
estáveis do passado,mas também abrem a possibilidade de novas articulações: a
criação de novas identidades, a produção de novos sujeitos.Ao que eles chamam
de recomposição das estruturas em torno
de pontos nodais particulares de articulações”.
Stuart
Hall (2006), analisa a questão das mudanças ocorridas na formação da identidade
do sujeito moderno e considera que
“aquela identidade, plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma
fantasia” e nos leva por caminhos congruentes de avaliações socioculturais, cujas
bases estão firmadas e contextualizadas nas teorias dos sujeitos Iluministas,
sociológico e pós modernos:
“O
sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada (...) é o sujeito
iluminista, que está se tornando fragmentado; composto por várias identidades,
as vezes contraditórias ou não; O sujeito sociológico é formado na relação com
as outras pessoas,consideradas importantes para ele (...) o próprio processo
de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades
culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático (...) esse
processo ajuda a produzir o sujeito pós-moderno. A identidade torna-se uma
celebração móvel,(...) diferentes e continuamente deslocadas.”(Hall,
1987;1990;2006).
Até
o final do século XX, o mundo era dividido entre Oriente e Ocidente,
aparentemente antagônicos; não havia essa conexão globalizada e as nações
possuíam suas culturas definidas, com eixos ideológicos e acreditavam-se permanente,
culturas essas em torno das quais, organizavam-se a economia e os costumes
cotidianos.
Porém,
“as experiências das diásporas, transformaram-se em problemas; a hibridização deixa sua marca e a fluidez
das identidades, tornam-se ainda mais complexa, pelos entrelaçamentos de outras
categorias construídas além das classes, raça,nação e gênero”... (Canclini,
2009)
O
mundo atual está repleto de pessoas em movimento, afastando-se das guerras
civis, da fome, de doenças, de xenofobismo e de pobreza... Este é um tipo de
globalização informal, ilegal... É um contra poder.
Para
Garcia Canclini “ a migração que criou essa mistura de culturas, pelo mundo
criou também cidades multiculturais; criou novas diásporas mundo afora. E vai
na contramão da Globalização. O autor argumenta que “ Essas transformações
ameaçam a arquitetura do multiculturalismo, política gerada pela globalização,
cujo modelo entra em crise; o Estado, as leis a política de comunicação e de
educação já não são suficientes para conter os avanços das migrações e das
mestiçagens” provocando um grande problema de controle de social.
“A
política de globalização pretendia manter as pessoas e as culturas em seus
lugares de origens e o sistema mercadológico em dinamismo, no sentido mundial,
mas isto não aconteceu. O imprevisto é que as pessoas estão indo em busca de
suas melhoras e as empresas estão correndo atrás dos mais capacitados, das
criatividades, das invenções e inovações e das novidades, isto tem enlouquecido
o mercado global. Hall ( in Heloisa Buarque, 2003).
Diante
desse fatos, Garcia Canclini (2009) propõe a mudança do termo multiculturalismo
para Interculturalidade, por acreditar que estamos vivendo entre dois modos de
produção sociais em que: de um lado o multiculturalismo
que admite a diversidade cultural, mas propõem uma política relativista de
respeito as culturas, reforçando o segregacionismo; e do outro a
interculturalidade que remete às confrontações e aos entrelaçamentos.
O
autor citado, adverte que “ com a globalização tecnológica, quase todo o
planeta entra em conexão simultânea, isso faz com que se criem novas
modalidades de diferenças e de desigualdades”.
Toda
crise antecede a um questionamento sobre continuidades.
Referencias
bibliográficas
HALL, S. Identidades culturais na pós-modernidade. 11
ed. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2006.
SILVEIRA, R.M.H.
(Org.). Cultura, poder e educação: um debate sobre estudos
culturais da
educação. Canoas: Editora ULBRA, 2005.