domingo, 26 de outubro de 2008
A Linguagem de Corpos Multiculturais
Minhas Crôncas do Portal Gramame.com
Que corpo é esse que não cessa,
e mesmo quando morto existe?
Que vive e se perpetua nas dimensões espaço e tempo?
Que evolui, aperfeiçoa-se e transmuta-se?
Corpo que fala quando silencia...
E quando calado sentencia.
Que corpo é esse que camufla a própria imagem?
Que, simula, gesticula e que é linguagem?
Que corpo é esse que sensível capta tudo?
Corpo frágil que ao outro contamina
Que recria, reproduz e que inventa
Corpo que se movimenta,
deita e rola, faz e acontece...
corpo jovem que envelhece, que se rende à gravidade.
Esse corpo epicurista exaurido de prazer
e de sensibilidade.
Originário do africano.
E o corpo de Freud edipiano,
no corpo incestuoso de Jocasta
Cinematográfico corpo de Sofia.
Corpo da libidinagem,
e de Calígula `a sacanagem,
que ultrapassa as fronteiras da linguagem.
O corpo da cilada...
E o indelével corpo da criança estuprada.
O criminoso corpo de Lombrozzo
Deplorado corpo em assalto,
Corpo em combate...
no calor da trama do corpo rodrigueano
e o romantismo do corpo dramático,
shekspeareano
Corpos divinos de Dante e Beatriz
Demoníaco e sedutor corpo de Lilith
a mulher que Adão não quis
e o tão igual provocador: Leila Dinis
O corpo negro de Otelo,
corpo belo...
da gueixa amarela que sustenta seu amado
Dionisíaco corpo de Elis embriagado.
O corpo queimado de Galdino
Misterioso corpo de Carlinhos raptado.
Corpos de Chernobyl,
por herança deformados.
Que corpo é esse que perpetua a humanidade?
Corpo do bem?
Corpo da maldade?
Corpos detentos legitimados
Duros corpos da Lei iníqua
Corpos de arena.
“Ius primae noctis”
a Primeira noite da romana,
cedida à flor do corpo ao seu senhor
e o corpo enforcado de Judas, traidor.
Corpo paleolítico de Vênus Lespugue,
de um nu abrasador
E da bela Afrodite a deusa grega do amor.
Corpo de Camilo que preso à relação
libera à Ana Plácido
o seu amor de perdição
Corpos do adultério
Corpo da traição.
Corpos de Lesbos em sodomia
E o corpo de Onan em rebeldia.
A volúpia que adolesce
no Eros de Boticelli.
Cabeça sem corpo de presente a Salomé
E o corpo bovariano de Fleubeart
Corpos das virgens assassinadas,
e da pureza a essência retirada
e no perfume
de Patrick transformadas.
Corpos revolucionários de Yoko e John Lennon.
E corpos suicidas de Jim Jones, vaidosos e narcísicos,
que se envenenam.
Corpos crédulos dos ex-votos, prometidos e engessados
corpos fragmentados.
O Corpo Sacro de Vojtyla.
Objeto, sex-appeal.
Balzaquianos corpos que desnudam olhos de um tempo juvenil.
Casto corpo de convento
Corpo de cruz e sofrimento,
Sedento de fome... de miséria.
Corpo pobre na opulência
Decente corpo da luxúria;
da injúria
E o corpo vil da violência.
Dos picos corpos gelados
E no fundo do mar jazidos
Corpos de bruxas queimados
Corpo do Cristo ferido
Lutam p’ra se defender
do julgo imperioso
Da cúria do glorioso e implacável poder.
Corpos que subvertem
a ordem capitalista.
Semente da flor de Hiroxima
corpos do Vietnam
e de mulheres encobertas com a burca no Irã,
Impedidas do biquíni, da calcinha e do batom
e da renda delicada do bico do sutiã.
Corpos fundamentalistas
Corpos puros, arianos:
O protótipo do corpo endeusado
Corpos sem nomes, desvalidos
Corpos hitleristas experimentados,
Repelidos corpos de judeus assassinados
e corpos perfeitos selecionados.
Napoleônicos corpos decapitados
e capitalizados corpos explorados
O corpo do escravo
O escravo do corpo
Corpos coloridos da TV
E corpos de olhos que não vê
Que se toca e não se sente,
um corpo tetraplégico dormente,
no teórico britânico Stephen Hawking
a geniosa mente de Stanislaw
e um corpo enjaulado
na jurisprudência de Nicolau
O Sonoro corpo da arte de um Mozart
E a sinestesia do “Atleta” de Picasso
Corpo medido da Vinci,
corpo de régua e compasso.
Um corpo nômade é sedentário,
o corpo literário de Pessoa
no corpo cansado do ermitão.
E no Rio da Candelária corpos mortos sem razão.
O Corpo de Deus no niilismo
frutos da imaginação
Aterrorizados corpos das Torres
atirados do alto em chamas
soterrados corpos dos escombros,
Alienados e massificados,
prostituídos e socializados corpos na lama.
Corpos que de corpos vivem, canibais
e mesmo que mortos
a natureza mesquinha
deles não se desfaz.
Pós-modernos, midiáticos,
saudáveis corpos viris dos teen-eges.
E a decrepitude de corpos outrora desejáveis.
viciados corpos sociais
“Vitiis, nemo sine nascitur”
corpos multiculturais,
benditos e sa (g) rados corpos dos mortais!
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